Ou foi blefe de Hamilton ou testemunhamos uma intervenção divina neste domingo em Budapeste.
Após cravar a pole, no sábado, o inglês declarou que só venceria por milagre.
Hamilton e Raikkonen no pódio de Budapeste (Luca Bruno/AP)
Pois bem. Venceu.
Foi sua 22ª vitória na carreira, o que o iguala a Damon Hill.
Foi a primeira pela Mercedes.
Mas o principal motivo da comemoração, acho: foi uma vitória daquelas para tirar a zica. Livrar-se de um peso nos ombros. Mostrar que um carro tão rápido pode, sim, ser um carro vencedor em suas mãos.
E foi merecido. Como foi…
Raikkonen ficou em segundo, com Vettel em terceiro.
Uma corrida quente, literalmente: 34°C no ar, 51°C no asfalto.
Na largada, Hamilton usou bem o lado mais limpo da pista e contornou a primeira curva na frente, seguido por Vettel e Grosjean.
Rosberg era o quarto, mas se enroscou com Massa no meio da volta e caiu para 12º.
O top 10 na primeira volta, Hamilton, Vettel, Grosjean, Alonso, Massa, Raikkonen, Webber, Button, Ricciardo e Pérez. A diferença do líder para o segundo colocado, 1s1.
Desses, apenas Webber, Button e Pérez optaram por largar com os pneus médios. Olho neles, portanto: pilotos com estratégias diferentes, que poderiam aprontar.
Este primeiro trecho da prova foi de Hamilton. Com vento na cara, o inglês não conseguiu escapar de Vettel, mas tampouco foi ameaçado.
Na décima volta, o inglês abriu a janela de pits. Taí a explicação para a tal frase do “milagre”, lançada no sábado: ele sabia que os pneus macios não durariam muito no seu carro.
Maldonado e Di Resta também pararam. Na 11ª, Ricciardo, Bottas e Rosberg entraram. Vettel parou na 12ª, e Massa e Hulkenberg o seguiram. Alonso entrou na 13ª.
Na 14ª, a Lotus deu um show nos boxes: chamou Grosjean e Raikkonen, separados por poucos segundos, e trabalhou de forma impecável nos dois carros.
Assim, Webber (lembram?) chegou à ponta, sem passar pelos boxes e virando tempos muito parecidos com os da turma que tinha pneus médios novos.
Hamilton também se deu bem, saindo atrás de Button, mas ultrapassando o compatriota e chegando ao segundo lugar.
Vettel se deu mal: também saiu atrás de Button, mas ficou trancado, perdeu um pedaço da asa ao tocar o inglês e, de quebra, passou a enfrentar problemas no Kers.
Webber só parou na 24ª volta. Pérez também.
Enquanto isso acontecia, Vettel passava Button, e Grosjean se estranhava com o inglês na pista.
Achei que nunca fosse escrever isso, mas lá vai: na minha opinião, o francês foi vítima. Button escapou da pista e voltou como se não houvesse ninguém ali. Mas havia.
Ambos tiveram de passar pelos boxes e voltaram babando pra pista. Azar de Massa, que levou um passão de Grosjean.
(O francês seria punido depois, por ter saído da pista ao fazer a manobra. Um absurdo. Se a MotoGP usasse os critérios da F-1, Márquez teria sido punido pela manobra em Rossi em Laguna Seca. Ridículo…)
O top 10 na 30ª volta, Hamilton, Vettel, Alonso, Webber, Raikkonen, Grosjean, Massa, Button, Hulkenberg e Pérez.
Na 32ª, Hamilton e Massa pararam. O inglês voltou atrás de Webber, mas tomou a posição duas voltas depois.
Alonso entrou na 35ª.
Metade da prova, e Hamilton tornou-se líder novamente. E, com ótimo ritmo. Na 41ª, cravou a então melhor volta da corrida: 1min25s798.
Deve ter sido este o momento em que começou a acreditar em milagres.
Enquanto isso, Vettel passava Button, Pérez parava de novo e Raikkonen, conservando pneus como um monge, fazia seu último pit stop.
Na 44ª, Webber foi aos boxes e colocou novos médios: ou seja, ainda teria de parar para macios.
Grosjean entrou na 48ª. Alonso, na seguinte. Massa e Rosberg, logo depois.
Na 50ª, Grosjean passou Button.
Hamilton entrou na 51ª e, ao sair dos boxes, protagonizou um lance genial com Webber. Os dois se encontraram, e o inglês não aliviou. O australiano quase foi parar no rio Danúbio, mas conseguiu retornar à pista.
Vettel, líder fictício, parou na 56ª. Voltou atrás de Webber (lembram?), que ainda pararia.
O pódio, então, começou a ficar mais claro: Hamilton na ponta, com Raikkonen e Vettel brigando pela segunda posição.
Na 60ª volta, Raikkonen tinha 0s784 de vantagem para Vettel, que pisava fundo.
Foi quando Webber parou para, enfim, calçar os macios. Disputa aperta.
Raikkonen reagiu e abriu 1s4 na 62ª.
O que vinha sendo um voo de cruzeiro para Hamilton ganhou ares de agonia na 66ª volta: Rosberg encostou, com o motor fumando.
Mas não. Hoje não.
Deu Hamilton, enquanto lá atrás Vettel e Raikkonen se engalfinhavam, mas com o finlandês prevalecendo.
Completando o top 10, Webber, Alonso, Grosjean, Button, Massa, Pérez e Maldonado.
Sobre Massa, uma corrida apagada, insossa. Mais uma.
Com o resultado, Raikkonen chega a 134 pontos, supera Alonso por um ponto e é o novo vice-líder do Mundial.
Vettel continua na ponta, com 172.
A F-1 agora entra em férias, só retorna no final de agosto, em Spa.
Com a sensação de que esta vitória de Hamilton, blefe ou milagre, e este segundo posto de Raikkonen no Mundial abrem um sorriso enorme no alemãozinho…