Novos tempos
06/06/13 16:20Entrei na Folha em junho de 1995, vindo da Rádio Trianon. Foi meu segundo emprego. Minha missão era cobrir polícia na região do ABC.
Logo na estreia estourou uma rebelião numa delegacia em São Bernardo. Fui mandado para lá, com o bolso cheio de fichas telefônicas, para ditar a matéria para a Redação no fim da tarde.
Eu tinha 20 anos e estudava Jornalismo na Metodista, também em São Bernardo. Não era raro um motorista do jornal bater na porta da sala de aula e de lá seguirmos para a cobertura de uma chacina em algum morro da região.
A Folha ABCD acabou, fui integrado ao núcleo de cadernos regionais e cobri algumas emergências em Ribeirão Preto, Campinas, São José dos Campos.
Meu sonho, desde sempre, era trabalhar com jornalismo e com esporte. Quando moleque, eu criei jornaizinhos nos colégios pelos quais passei, Cristo Rei e Bandeirantes. Lembro quando fiz uma “revista” de futebol em casa, munido de máquina de escrever e estilete, e mandei para a Jovem Pan. E a alegria quando o Milton Neves falou meu nome na rádio?
O sonho foi realizado em dezembro de 1996, quando fui convidado pelo Melchiades Filho para integrar a editoria de Esporte da Folha, cobrindo F-Indy. Eu havia morado nos EUA, ele sabia que meu inglês era bom, que estava cheio de tesão para trabalhar na área. Acho que formava um pacote interessante.
Cobri duas temporadas da Indy, 1997 e 1998, os anos Zanardi. E tive o prazer de embarcar em outras coberturas pelos EUA neste período: cobri aquele lendário playoff final da NBA entre Chicago Bull e Utah Jazz e uma série de torneios do Guga por lá.
Também vivi um marcante momento de tensão, de plantão diante do Jackson Memorial Hospital, em Miami, quando o Emerson espatifou um ultraleve no meio do mato.
Ainda em 1998 cobri minha primeira corrida de F-1 fora do país: em Nurburgring, vitória de Hakkinen com a McLaren.
Em 1999, comecei a viajar para todas as corridas. Começou ali, também, minha parceria com o Odinei Edson e o grupo Bandeirantes, transmitindo as provas pelo rádio. Uma louca delícia.
Foram mais de 130 GPs, acho. Perdi a conta. Vi cinco títulos do Schumacher. Acompanhei o antes, o durante e o depois da saga de Barrichello na Ferrari. Testemunhei novos circuitos surgirem e velhas pistas morrerem. Cobri chegadas e partidas de tantos e tantos promissores pilotos brasileiros. Fiz grandes, enormes, gigantescos amigos _e não vou citá-los aqui, eles sabem quem são.
Cobri três Olimpíadas: Sydney, Atenas e Pequim. Experiências inesquecíveis.
Como esquecer o dia da maratona de 2004, por exemplo? Fui mandado em cima da hora para cobrir a chegada, ainda quando o Vanderlei liderava. Peguei carona com a turma da rádio e TV Bandeirantes. Tivemos de parar em um determinado ponto, a uns 2 km do Panathinaiko, porque as ruas a partir dali estavam bloqueadas.
Não tivemos dúvida: cumprimos o último trecho da maratona correndo pelo trajeto da prova, carregando mochilas e equipamentos, ovacionados pelo público.
(Se duvidarem, perguntem ao Alex Müller, que até hoje me deve a foto daquele momento).
Ainda naquele 2004, fui convidado a escrever a coluna de automobilismo da Folha. E, no meio de 2006 criei este blog. Foi o primeiro de um jornalista da Redação da Folha na então incipiente blogosfera do jornal. Teve gente que não gostou, mas o tempo provou que era uma alternativa válida, que abriu portas para muita gente boa.
Passaram mais alguns meses, fim de 2006, e deixei as viagens pela F-1. Foram oito cansativos anos, já era hora de buscar novos desafios. Aceitei, na ocasião, o convite para ser editor-adjunto de Esporte.
Não me arrependo. No ano seguinte nasceu a Julia, e eu não conseguiria continuar viajando o mundo deixando aquele bebê tão divertido em casa.
O trabalho na “cozinha” foi um aprendizado. Aprender a ser chefe, a lidar com equipe, com as particularidades, demandas e desejos de cada um… Tudo isso é muito mais difícil do que parece.
Foi uma experiência que, entre outros frutos, me levou a dar aulas.
Dei um curso de F-1 na Casa do Saber, em São Paulo, do qual guardo grandes recordações. E, a convite da FAAP, criei, coordenei e lecionei na pós-graduação em Jornalismo Esportivo, que continua lá, firme e forte, para meu profundo orgulho.
Em 2010, então, vivi a maior experiência da minha carreira. Propus, e o jornal aceitou, viajar para 31 países da Copa do Mundo durante os 31 dias do torneio. Um país por dia, mostrando como o mundo torce. As idiossincrasias, as semelhanças e diferenças no modo de torcer pelo planeta.
Uma maluquice. Só fui dormir numa cama no quarto dia da viagem. Na Colômbia, escala entre os EUA e o Chile, perdi o laptop. No Japão, passei poucas horas. Na Costa do Marfim, conheci uma favela. Em Honduras, almocei com um ex-lateral da seleção. Estava em Amsterdã quando o Brasil foi eliminado pela Holanda. E em Madri, quando a Fúria foi campeã mundial.
O périplo virou uma série de reportagens na Folha, que me valeram meu segundo prêmio Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). E, de quebra, rendeu um documentário. O trailer está aqui.
(E como esquecer os conselhos de pai de caras como o Juca e o Tostão, na véspera do meu embarque, pedindo para que eu me cuidasse e não fizesse besteira?)
Ainda naquele final de 2010, deixei a editoria de Esporte. E fui muito bem acolhido em Mundo, onde tornei-me vice-chefe do Fabio Zanini, editor dos mais competentes e amigo dos mais leais.
Em 2011, mistura de interesses profissionais de ambos os lados, vim para o Rio de Janeiro, atuar como coordenador da Sucursal.
Deixei o cargo no começo deste ano para voltar a uma antiga paixão, a reportagem.
Nesse período, conheci também outro meio sensacional: a TV. Uma vez por semana dou meus pitacos no “Redação Sportv” e de vez em quando atuo como comentarista convidado nas categorias que o canal transmite. Um baita aprendizado com uma turma de primeira linha e que me acolheu de braços abertos.
Na terça-feira, dias antes de completar 18 anos de casa, minha história de funcionário da Folha acabou.
É uma pena, mas acontece. Ciclos começam e acabam. A reflexão é longa, o debate não é novo e há uma série de sites e jornalistas especializados em mídia que podem falar com mais propriedade do que eu sobre o futuro dos jornais e da profissão.
Da minha parte, é hora de buscar novos caminhos, alçar novos voos, tentar mostrar serviço em outras plagas.
Estou animado, de verdade. Sou desses.
Como diz meu avô Carlos Alves de Seixas, do alto dos seus 97 anos, o grande risco em mudanças assim é a vida melhorar. Então vamos nessa, vamos ver no que dá.
Tudo isso para dar uma satisfação aos que souberam da notícia por aí e fizeram perguntas lá no Twitter e na caixa de comentários. Obrigado a todos pelo carinho.
E para dizer que fechei um acordo com a empresa e que, por ora, tanto o blog como a coluna continuam.
Também continuarei aparecendo de vez em quando no Sportv e comentando F-1 pelas rádios Bandeirantes e BandNews FM.
O que vem pela frente? Não sei. E esse “desconhecido” é um grande barato.
Nova fase, novos tempos.
Conto com vocês. Voltamos à programação normal.
Fabio, talvez vc não lembre, mas passamos alguns dias em Imola em 2003 com o Flavio e o Odinei…e naquela semana, percebi que estava diante dos melhores profissionais da comunicação esportiva do Brasil…virei literalmente fã de vcs. Não há dúvida que vc vai ser ainda mais vitorioso nos próximos desafios que a vida vai te proporcionar. Seus leitores (e fãs ) te acompanharão sempre! PAULO FERRARI
Opa, Paulo, claro que lembro. Obrigado pela deferência!
Abs
É meu jovem … é phoda!
Continue vivo no automobilismo, principalemnte na Band e no Sportv, pois precisamos de caras como vc e o Flavio Gomes pra traduzir as coisas de corrida pros leigos de plantão.
De prático, 2 frase: a do seu avô (sensacional) e a outra que li num boteco “Se a vida lhe der as costas, passa a mão na bunda dela!”.
Boa Sorte e que continue o ótimo trabalho e a paixão pelo esporte e pela profissão sempre !
FG, conhecendo vc como conheço, o desconhecido será mais maravilhoso ainda!! Grande beijo, saudades!!!!
Beijão!
Te desejo sucesso, Fábio. Onde você for, eu vou atrás, no bom sentido rss
Assinante da Folha desde sempre, me revoltei quando mandaram o Flavio Gomes embora e cancelei a assinatura. Me deram um tempão de graça e me interessei pelos teus textos. Cancelei de vez a assinatura quando mudei para Londres, há uns 2 anos atrás, mas continuei a ler seus textos no blog pela internet. Hoje moro na França e continuo acompanhando. As duas fontes principais de informação e opinião que uso sobre automobilismo são o seu blog e o do Flavio Gomes. Quando volto ao Brasil, de vez em quando leio a Folha e me surpreendo como o jornal ficou antiquado e recalcado. Ou fui eu quem mudou? De qualquer maneira, vá tranquilo. Você é um baita Jornalista e vai muito mais longe agora que terá mais liberdade.
Boa Sorte…
Vai dar tudo certo no seu futuro
um grande abraço
Grande Fabinho, como muitos eu tb sou seu leitor assíduo mas nunca me manifestei. Tenha planos! Com certeza você estará sendo disputado pelo mercado em breve. Se o blog mudar de endereço, avise!
Obrigado por dedicar seu tempo em manter esse blog para nós.
Mas ainda fica aqui pelo Rio? Ainda corro o risco de te encontrar na fila do RioBrasa ou do Cervantes?
Opa. Sempre.
Abs
Boa sorte, Fábio!
Cara, acompanho teu blog há anos mas nunca fiz um comentário. Acho que, pelo menos agora devo dizer algo: não pare de escrever porque eu fiquei dependente disso hehehe Boa sorte!
QUARENTAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!
UM ABRAÇO FABIO SEIXAS E TUDO DE BOM VELHO.
Fábio, você parece ser um dos caras “do bem” no jornalismo. Sua matérias são sempre interessantes, seus textos bem escritos e seu comentários sempre pertinentes. Novos horizontes, meu bom. Sucesso!
Boa sorte. Continuarei seu leitor, telespectador, ouvinte.
Não é uma época de mudanças mas de novas descobertas e a revelação da invejável e profunda irmandade com o desbocado porra louca do Flavinho.Abraço irmão, de um leitor frequente da época em que o expediente do blogueiro te apresentava aos 32 anos.
Valeu, Edu, obrigado pela paciência por tantos anos…
Abs
rapaz, desejo sorte, acompanho seu blog a pelo menos uns 3 anos, por favor nao pare de nos informar sobre f1 entre outras coisas mais. Mto legal a materia do flavio gomes.. Ri pra caramba imaginando as cagadas onde se meteram. enfim… sorte e continue nos informando sobre o esporte a motor.
Fabio, bons vôos, no final vai dar tudo certo.
Caro Fábio,
Sou seu leitor há muitos anos. Neste espaço em especial, desde que ele foi criado.
Sempre calado, eu nunca me manifestei, mas não poderia deixar de fazê-lo agora…
Boa sorte em seus “novos vôos”. Tenho a certeza de que muitas coisas boas virão.
Pessoas bacanas e competentes como você só merecem este tipo de coisa.
Um abração.
Alex Melo
Lendo seu relato, afirmo com tranquilidade que vc estará cada vez melhor nesta nova fase. Abraço,
Fábio, minhas sextas feiras começavam lendo Sua coluna na Folha. Lamento por isso. Que voce continue nos abrilhantando com colunas inteligentes, as vezes controversas, na internet ou em alguma mídia que saiba reconhecer que esse esporte vai além da falta de brasileiros no paddock.
Parabéns por seu legado.
Valeu, Cadu. Mas a coluna vai continuar por respeito a caras como você.
Abração
Acompanho o blog desde o início, e é nessas horas que a gente se da conta do quanto o tempo passa rápido. Nunca tinha postado um comentário por aqui, mas esse post vale a ocasião. Dê notícias da onde vai, porque certamente não só eu mas muitos outros leitores acompanharão seus novos desafios. Um abraço e boa sorte!
Não é me desfazendo de minha vida, porque eu gosto dela, mas enaltecendo a sua: eu escolheria ter vivido sua vida se me dessem essa opção hehe. Conheci o blog há pouco mais de um ano, infelizmente. Meu conhecimento de F1 aumentou muito desde que passei a frequentá-lo. Espero que não precise, mas boa sorte.
Fabio, acho que te conheci tão logo começou a cobrir a Indy em 1996 e se não estou enganado, fizemos uma viagem para Phoenix, não foi? Naquela época em que tínhamos uma seleção de brasileiros correndo nos EUA. Vi muito seu trabalho de perto e depois tivemos coletiva da Ferrari em Maranello. Adorei ter participado do curso na Casa do Saber – muito bom mesmo. Te acompanho aqui no blog e na Folha e espero poder continuar a acompanha-lo por te considerar dos profissionais mais competentes do jornalismo esportivo – e você sabe que conheci vários. É com tristeza que leio esse seu post, mas como você mesmo disse, certamente coisas melhores te esperam. Te desejo de coração muita sorte e sucesso porque além de excelente profissional, é pessoa de primeira linha. Continuarei te acompanhando e me divertindo com os seus textos super informativos e precisos. Enorme abraço
Valeu, Estevam! Você sempre foi um cara dos mais atenciosos.
Abs
Não nos conhecemos, nunca nos vimos, mas também sou jornalista e há muito tempo você é referência para mim. Continue animado, você logo encontrará um bom rumo. Boa sorte!