Há um ano, Raikkonen voltava à F-1 após dois anos despirocando nos ralis e até na Nascar. Um retorno festejado por muita gente, mas que levantou desconfianças de tantos outros.
Afinal, que Raikkonen retornaria à categoria? Aquele pré-2007, ousado, arisco, veloz? Ou aquele de 2008 e 2009, a fim de nada?
Ele deu logo a resposta. Com um carro apenas mediano, foi o terceiro colocado no Mundial.
E hoje, um ano depois, vence o GP da Austrália e assume a liderança da tabela.
Raikkonen, no pódio do Albert Park (Diego Azubel/Efe)
Ok, pode até não ficar muito tempo por lá. Mas quem sabe? Você coloca a mão no fogo?
Fato é que Raikkonen mostrou mais uma vez ter aquele quê especial. Aquela chama. Aquele conceito tão difícil de definir e que batizamos de “talento nato”.
Com uma estratégia de apenas duas paradas, contra três da maioria dos seus pares, o finlandês venceu a abertura do campeonato, em Melbourne.
Alonso ficou em segundo, com Vettel em terceiro. Massa cruzou em quarto.
Uma corrida cheia de alternativas, um bom início de Mundial.
Na largada, Vettel manteve a ponta, e os ferraristas mostraram apetite: cada um ganhou duas posições.
Massa aproveitou a má largada de Webber, jogou o carro pra direita e ganhou a segunda posição. Alonso preferiu sair pela esquerda, duelou com Hamilton e acabou subindo para terceiro.
O top 10 ao fim da primeira volta, Vettel, Massa, Alonso, Raikkonen, Hamilton, Rosberg, Webber, Di Resta, Button e Sutil.
Não demorou muito e começamos a entender que o pneus supermacio e nada é a mesma coisa: corre-corre nos boxes para colocar os médios.
Button foi o primeiro a parar, já na quinta volta. Foi seguido por Webber, Grosjean e Gutierrez. Na sétima, Vettel, Bottas e Chilton pararam. Na oitava, Van der Garde (vai ser um saco escrever este nome comprido o ano todo; não tinha nenhum Zé a fim de correr na F-1, não?)
Massa entrou na nona volta, assim como Di Resta e Pic (olha aí um bom nome!). Alonso entrou logo depois. Maldonado, que já tinha dado um passeio pela grama, fez seu pit na 11º.
Lá na frente, Hamilton e Rosberg mantinham-se na pista e lideravam. Sinal de equilíbrio dos carros da Mercedes, com ou sem a tal suspensão ativa hidráulica.
(Pensando bem, “Karthikeyan” é ainda pior que “Van der Garde”. Não dá pra reclamar muito, não.)
Hamilton só parou na 14ª volta. Rosberg, na seguinte.
Sutil, que largou com os médios, assumiu a liderança. Um acontecimento dos mais bacanas, depois de todos os problemas que ele enfrentou. Logo no primeiro GP, pagou a aposta da Force India.
Outros talvez se desesperariam ao ser verem na ponta com um carro de força média. Sutil mostrou maturidade. Liderou de verdade.
Na 18ª volta, Van der Garde entrou nos pits, com um pneu furado. Na seguinte, Webber parou, já abrindo pra valer a segunda janela de pits _colocou outro jogo de médios.
Na 20ª, Grosjean e Chilton entraram. Na 21ª, Alonso, Sutil e Vettel.
Massa assumiu a ponta e foi mantido na pista pela Ferrari. Por quê? A resposta viria em três voltas.
Quando entrou, na 24ª, voltou em sétimo, atrás de Alonso, Vettel e Sutil.
Odeio teorias da conspiração, ideias fantasiosas, ilações. Mas desta vez, a sacaneada foi clara. Mantendo Massa na pista, a Ferrari deixou claro seu plano pro GP e pra temporada e colocou o brasileiro em seu lugar. Pena. Mais uma vez, a competência esportiva foi deixada de lado.
Alonso é melhor que Massa, isso não é segredo. Mas há (e haverá) dias em que o brasileiro estará melhor. Infelizmente, não vai adiantar nada.
Na 25ª volta, um outro infame clássico: Maldonado abandona, atolado na brita. Pelo menos desta vez ele não levou ninguém junto.
Na volta seguinte, foi a vez de Rosberg encostar o carro na curva 4 e abandonar. Muito rápido, o carro da Mercedes ainda peca na confiabilidade.
Lá na frente, Raikkonen e Hamilton, com apenas um pit, lideravam. Na cola do inglês, Alonso tentava desesperadamente ultrapassar, mas não conseguia.
Hamilton só parou na 32ª. Raikkonen, duas depois.
O top 10, então, ficou assim: Alonso, Vettel, Sutil, Massa, Raikkonen, Hamilton, Webber, Button, Grosjean e Vergne.
Sem conseguir passar Sutil, Massa antecipou-se a todos e abriu a terceira janela de pits, apenas 13 voltas depois da primeira. Vettel parou na sequência.
Button e Grosjean entraram na 38ª. Alonso, líder, entrou na seguinte, entregando novamente a ponta para Sutil, ainda com apenas uma parada.
Na 40ª, Vettel passou Hamilton. Massa veio no embalo e fez o mesmo.
Na 43ª, Hamilton entrou para seu terceiro pit. Lá na frente, Raikkonen respirou fundo, acelerou e passou Sutil. Tornou-se o novo líder do GP.
Alonso babava para chegar lá. Mas precisava se livrar do alemão para tentar alcançar o finlandês.
Ele só conseguiu passar na 46ª volta. Teria 12 voltas para tirar os 4s3 que o separavam de Raikkonen.
Mas faltou combinar com o finlandês. A diferença, em vez de cair, aumentou. Na 47ª, já era de 7s7, muito por culpa do tráfego enfrentado pelo espanhol.
Aí não tem milagre. As últimas voltas foram meramente burocráticas ali na frente.
Raikkonen cruzou com 12s4 sobre Alonso.
É sua 20ª vitória na carreira, o que o iguala ao compatriota, companheiro de copo e ídolo pessoal Mika Hakkinen. É, ainda, a primeira vitória da Lotus numa prova de abertura do campeonato desde 1978, com Mario Andretti, na Argentina.
O top 10 na chegada, Raikkonen, Alonso, Vettel, Massa, Hamilton, Webber, Sutil, Di Resta, Button e Grosjean.
Esta é, obviamente, a classificação do Mundial de Pilotos. No Mundial de Construtores, a Ferrari lidera, com 30, seguida por Lotus, com 26, e Red Bull, com 23.
Um bom início de caminhada, fugindo do previsível. A Red Bull chegou toda badalada, sai de cabeça mais baixa. E isso é ótimo para o campeonato.