Grosjean, Whitmarsh, Hamilton e Pérez no pódio de Montrel (Luca Bruno/AP)
Hamilton já fez corridas excepcionais na F-1.
Mas a de Montreal, neste domingo, ganha um lugar especial nessa galeria.
Porque foi na base da garra, da vontade acumulada, do grito engasgado. Do “contra tudo e contra todos”. Incluído, aí, o péssimo trabalho de boxes da McLaren.
É a 18ª vitória do inglês e a primeira no ano. O que significa a extensão do recorde histórico. Sete pilotos venceram as sete primeiras etapas deste campeonato.
Números sensacionais para a melhor corrida do ano, até agora.
A largada aconteceu sem sustos, com poucas mudanças de posições. Ao fim da primeira volta, o top 10 tinha Vettel, Hamilton, Alonso, Webber, Rosberg, Massa, Di Resta, Grosjean, Schumacher e Button.
O destaque foi Massa, pressionando Rosberg desde as primeiras curvas e fazendo a ultrapassagem na terceira volta. Uma agressividade que não se via dele há tempos.
Mas a alegria durou pouco.
Três voltas depois, colocou tudo a perder. Talvez por excesso de empolgação, o brasileiro rodou na curva 1. Caiu para a 12ª posição. Na oitava volta, outro susto: nova escapada de traseira, passou a milímetros do Muro dos Campeões.
Mais atrás, Bruno também deve ter cometido algum erro. A TV não mostrou, mas, de repente, ele despencou para 19º. Esperemos as explicações após a prova.
A saída da Ferrari para Massa foi tentar fazer algo diferente e chamá-lo para os boxes, na 13ª volta. Ele trocou os supermacios pelos macios.
Di Resta e Schumacher entraram na volta seguinte, também colocando os pneus amarelos. Na 16ª, Button entrou, fazendo a troca inversa.
Lá na frente, Hamilton grudou em Vettel. Chegou a dar o bote. Mas não houve duelo: logo depois, o alemão entrou e fez sua primeira parada.
Hamilton teve uma volta para pisar fundo. E deu certo.
Na 17ª, ele foi para os boxes. E, ao voltar à pista, era o líder, à frente de Vettel.
A coisa, então, ficou sensacional. Porque foi a vez de Alonso acelerar tudo o que podia, fazer o pit e voltar na liderança, na 19ª volta.
Mas Hamilton não estava a fim de deixar o espanhol lá. E, na 20ª, ultrapassou o ferrarista numa manobra belíssima: ousada e cheia de técnica.
Ou seja. três trocas de liderança em seis voltas. Um GP dos mais bacanas.
Na 21ª, o top 10 tinha Hamilton, Alonso, Vettel, Raikkonen, Kobayashi, Pérez, Webber, Rosberg, Grosjean e Maldonado. Massa era o 11º. Bruno, o 18º.
(E, importante: com Raikkonen, Pérez e Maldonado ainda com os pneus macios da largada, dando indicações de apenas uma parada.)
O segundo trecho da corrida viu um Hamilton acelerando muito forte, inalcançável. Cravou volta mais rápida em cima de volta mais rápida e, na 32ª, tinha 3s3 sobre Alonso. Um refresco, enfim.
Entre a turma que largou com os macios, Maldonado foi ao boxes. Ou seja, apenas Raikkonen, quarto, e Pérez, quinto, arriscariam uma parada. E ambos seguiam o plano à risca, com chances de entrar na briga pelo pódio.
Tudo começou a ficar mais claro na 41ª volta, quando Raikkonen entrou. Pérez parou na 42ª e voltou à frente do finlandês. Ambos, porém, estavam a mais de 25s de Vettel. Precisariam de um erro do alemão para brigar pelo pódio.
Falando em alemão, outro, um heptacampeão, manteve sua sina de azares nesta temporada. Com a asa traseira aberta, e travada, Schumacher abandonou o GP na 45ª volta.
Na 50ª, Hamilton tinha 2s6 sobre Alonso e foi para sua segunda parada. A McLaren, para variar, se atrapalhou na troca de pneus, para desespero de sua namorada pussycat.
(Um grande mistério desta temporada é o que aconteceu com os mecânicos da McLaren, antes símbolo de eficiência.)
Montreal, então, começou a desconfiar de uma parada só para Alonso e Vettel. Estratégia arriscada, mas que significava a única chance de ficarem à frente de Hamilton. Não havia muito escolha, pois.
A dez voltas do fim, Alonso tinha 2s8 sobre Vettel, que tinha 3s2 sobre Hamilton. Era tudo ou nada.
Na 62ª, Hamilton embutiu em Vettel e fez a ultrapassagem. Não por coincidência, o alemão entrou nos boxes na mesma volta.
Ficou entre Alonso x Hamilton. A sete voltas do fim, só 0s3 os separavam, com o inglês mais rápido na pista. Não deu para o espanhol, por mais que ele tentasse com todas as suas armas.
Na 64ª, Hamilton fez a ultrapassagem e reassumiu a ponta. Sem pneus, Alonso ainda teve que se conformar em ser ultrapassado por Grosjean, Pérez e Vettel nas voltas finais.
O top 10 na linha de chegada, Hamilton, Grosjean, Pérez, Vettel, Alonso, Rosberg, Webber, Raikkonen, Kobayashi e Massa. Bruno foi o 17º.
Como se fosse para premiá-lo pela ótima corrida, Hamilton assumiu a ponta do Mundial. Tem, agora, 88 pontos, dois a mais do que Alonso. Vettel, em terceiro, tem 85. Depois surgem Webber, com 79, e Rosberg, com 67.
No Mundial de Construtores, a Red Bull tem 164 pontos, contra 133 da McLaren, 108 da Lotus e 97 da Ferrari.
Parabéns ao Hamilton. Um piloto que já foi tantas vezes criticado aqui, por seus súbitos descontroles, hoje voltou a mostrar seu talento. Merece aplausos.