Qualquer que seja o veredicto do julgamento da Mercedes, a ser revelado hoje, uma mancha ficará. Mais uma para o currículo de Ross Brawn.
Dos quatro últimos grandes escândalos da F-1, ele esteve envolvido em dois. A marmelada de Zeltweg-2002 e os testes secretos de maio.
(Não tiveram seu dedo, até onde sabemos, o caso de espionagem de 2007 e o “crashgate” de Nelsinho em Cingapura-2008.)
Em ambos os casos, agiu com um ar de inocência angelical, quase convincente. Mas podem chamar também de cara de pau.
Ontem foi demais.
Aos fatos: a Mercedes foi chamada pela Pirelli para testar pneus em Barcelona, não avisou ninguém, levou o carro de 2013 e treinou por três dias com seus pilotos usando capacetes sem identificação.
O xis da questão: o artigo 22 do Regulamento Esportivo da F-1 estipula que testes são proibidos para carros que estejam “substancialmente” dentro das regras atuais e com menos de dois anos de idade.
O principal argumento de Brawn no tribunal, em Paris: a Mercedes agiu de boa fé.
“Não sabíamos que pneus estávamos usando nem quais os objetivos que a Pirelli estava buscando. Acreditamos no princípio de que não ter nenhuma informação é melhor do que trabalhar com informação errada. Não há como imaginar que tenhamos usado qualquer dado colhido naquele teste.”
Com essa declaração, o engenheiro inglês chama a todos de burros.
Vamos supor que a Mercedes realmente não soubesse que pneus estava usando. É uma hipótese absurda, até porque nem seus funcionários nem os técnicos da Pirelli são mudos e surdos. Mas vamos supor.
Ainda assim, a equipe teve três dias para testar asas, suspensões, motor, câmbio, freio… Enquanto isso, suas dez adversárias estavam trancadas em seus escritórios.
Brawn disse ainda que a telemetria do carro estava acionada por “questões de segurança” e invocou o mesmo motivo para justificar os capacetes de seus pilotos. Segundo ele, isso foi feito para protegê-los do assédio dos fãs já que não havia guarda-costas à disposição.
Por fim, ainda tentou atacar a Ferrari, que levou um carro de 2011 à pista quando convocada pela Pirelli. Segundo ele, a escuderia italiana também deveria ser investigada porque, afinal, houve poucas alterações nas regras técnicas de lá para cá.
Como tuitou o repórter Pablo Elizalde, da “Autosport”, é como o irmão que leva uma bronca do pai e se defende com o argumento de que a irmã fez antes.
Julgamentos da FIA normalmente são políticos, e a Mercedes pode até se livrar por isso. Mas a fama de trapaceiro de Brawn já ganhou mais alguns pontos.
Menos mau que, nos anos 70, ele abandonou o estágio que fazia na Autoridade Britânica de Energia Nuclear. O mundo estaria em sério risco.