Entrei na Folha em junho de 1995, vindo da Rádio Trianon. Foi meu segundo emprego. Minha missão era cobrir polícia na região do ABC.
Logo na estreia estourou uma rebelião numa delegacia em São Bernardo. Fui mandado para lá, com o bolso cheio de fichas telefônicas, para ditar a matéria para a Redação no fim da tarde.
Eu tinha 20 anos e estudava Jornalismo na Metodista, também em São Bernardo. Não era raro um motorista do jornal bater na porta da sala de aula e de lá seguirmos para a cobertura de uma chacina em algum morro da região.
A Folha ABCD acabou, fui integrado ao núcleo de cadernos regionais e cobri algumas emergências em Ribeirão Preto, Campinas, São José dos Campos.
Meu sonho, desde sempre, era trabalhar com jornalismo e com esporte. Quando moleque, eu criei jornaizinhos nos colégios pelos quais passei, Cristo Rei e Bandeirantes. Lembro quando fiz uma “revista” de futebol em casa, munido de máquina de escrever e estilete, e mandei para a Jovem Pan. E a alegria quando o Milton Neves falou meu nome na rádio?
O sonho foi realizado em dezembro de 1996, quando fui convidado pelo Melchiades Filho para integrar a editoria de Esporte da Folha, cobrindo F-Indy. Eu havia morado nos EUA, ele sabia que meu inglês era bom, que estava cheio de tesão para trabalhar na área. Acho que formava um pacote interessante.
Cobri duas temporadas da Indy, 1997 e 1998, os anos Zanardi. E tive o prazer de embarcar em outras coberturas pelos EUA neste período: cobri aquele lendário playoff final da NBA entre Chicago Bull e Utah Jazz e uma série de torneios do Guga por lá.
Também vivi um marcante momento de tensão, de plantão diante do Jackson Memorial Hospital, em Miami, quando o Emerson espatifou um ultraleve no meio do mato.
Ainda em 1998 cobri minha primeira corrida de F-1 fora do país: em Nurburgring, vitória de Hakkinen com a McLaren.
Em 1999, comecei a viajar para todas as corridas. Começou ali, também, minha parceria com o Odinei Edson e o grupo Bandeirantes, transmitindo as provas pelo rádio. Uma louca delícia.
Foram mais de 130 GPs, acho. Perdi a conta. Vi cinco títulos do Schumacher. Acompanhei o antes, o durante e o depois da saga de Barrichello na Ferrari. Testemunhei novos circuitos surgirem e velhas pistas morrerem. Cobri chegadas e partidas de tantos e tantos promissores pilotos brasileiros. Fiz grandes, enormes, gigantescos amigos _e não vou citá-los aqui, eles sabem quem são.
Cobri três Olimpíadas: Sydney, Atenas e Pequim. Experiências inesquecíveis.
Como esquecer o dia da maratona de 2004, por exemplo? Fui mandado em cima da hora para cobrir a chegada, ainda quando o Vanderlei liderava. Peguei carona com a turma da rádio e TV Bandeirantes. Tivemos de parar em um determinado ponto, a uns 2 km do Panathinaiko, porque as ruas a partir dali estavam bloqueadas.
Não tivemos dúvida: cumprimos o último trecho da maratona correndo pelo trajeto da prova, carregando mochilas e equipamentos, ovacionados pelo público.
(Se duvidarem, perguntem ao Alex Müller, que até hoje me deve a foto daquele momento).
Ainda naquele 2004, fui convidado a escrever a coluna de automobilismo da Folha. E, no meio de 2006 criei este blog. Foi o primeiro de um jornalista da Redação da Folha na então incipiente blogosfera do jornal. Teve gente que não gostou, mas o tempo provou que era uma alternativa válida, que abriu portas para muita gente boa.
Passaram mais alguns meses, fim de 2006, e deixei as viagens pela F-1. Foram oito cansativos anos, já era hora de buscar novos desafios. Aceitei, na ocasião, o convite para ser editor-adjunto de Esporte.
Não me arrependo. No ano seguinte nasceu a Julia, e eu não conseguiria continuar viajando o mundo deixando aquele bebê tão divertido em casa.
O trabalho na “cozinha” foi um aprendizado. Aprender a ser chefe, a lidar com equipe, com as particularidades, demandas e desejos de cada um… Tudo isso é muito mais difícil do que parece.
Foi uma experiência que, entre outros frutos, me levou a dar aulas.
Dei um curso de F-1 na Casa do Saber, em São Paulo, do qual guardo grandes recordações. E, a convite da FAAP, criei, coordenei e lecionei na pós-graduação em Jornalismo Esportivo, que continua lá, firme e forte, para meu profundo orgulho.
Em 2010, então, vivi a maior experiência da minha carreira. Propus, e o jornal aceitou, viajar para 31 países da Copa do Mundo durante os 31 dias do torneio. Um país por dia, mostrando como o mundo torce. As idiossincrasias, as semelhanças e diferenças no modo de torcer pelo planeta.
Uma maluquice. Só fui dormir numa cama no quarto dia da viagem. Na Colômbia, escala entre os EUA e o Chile, perdi o laptop. No Japão, passei poucas horas. Na Costa do Marfim, conheci uma favela. Em Honduras, almocei com um ex-lateral da seleção. Estava em Amsterdã quando o Brasil foi eliminado pela Holanda. E em Madri, quando a Fúria foi campeã mundial.
O périplo virou uma série de reportagens na Folha, que me valeram meu segundo prêmio Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). E, de quebra, rendeu um documentário. O trailer está aqui.
(E como esquecer os conselhos de pai de caras como o Juca e o Tostão, na véspera do meu embarque, pedindo para que eu me cuidasse e não fizesse besteira?)
Ainda naquele final de 2010, deixei a editoria de Esporte. E fui muito bem acolhido em Mundo, onde tornei-me vice-chefe do Fabio Zanini, editor dos mais competentes e amigo dos mais leais.
Em 2011, mistura de interesses profissionais de ambos os lados, vim para o Rio de Janeiro, atuar como coordenador da Sucursal.
Deixei o cargo no começo deste ano para voltar a uma antiga paixão, a reportagem.
Nesse período, conheci também outro meio sensacional: a TV. Uma vez por semana dou meus pitacos no “Redação Sportv” e de vez em quando atuo como comentarista convidado nas categorias que o canal transmite. Um baita aprendizado com uma turma de primeira linha e que me acolheu de braços abertos.
Na terça-feira, dias antes de completar 18 anos de casa, minha história de funcionário da Folha acabou.
É uma pena, mas acontece. Ciclos começam e acabam. A reflexão é longa, o debate não é novo e há uma série de sites e jornalistas especializados em mídia que podem falar com mais propriedade do que eu sobre o futuro dos jornais e da profissão.
Da minha parte, é hora de buscar novos caminhos, alçar novos voos, tentar mostrar serviço em outras plagas.
Estou animado, de verdade. Sou desses.
Como diz meu avô Carlos Alves de Seixas, do alto dos seus 97 anos, o grande risco em mudanças assim é a vida melhorar. Então vamos nessa, vamos ver no que dá.
Tudo isso para dar uma satisfação aos que souberam da notícia por aí e fizeram perguntas lá no Twitter e na caixa de comentários. Obrigado a todos pelo carinho.
E para dizer que fechei um acordo com a empresa e que, por ora, tanto o blog como a coluna continuam.
Também continuarei aparecendo de vez em quando no Sportv e comentando F-1 pelas rádios Bandeirantes e BandNews FM.
O que vem pela frente? Não sei. E esse “desconhecido” é um grande barato.
Nova fase, novos tempos.
Conto com vocês. Voltamos à programação normal.