O contrato de Piquet em 1988
11/07/13 10:12Há mais tesouros da F-1 guardados na biblioteca da Universidade da Califórnia.
Como a minuta do contrato de Piquet com a mesma Lotus para os Mundiais de 1988 e 1989. E um “código de conduta” estabelecendo os papéis dele e de Nakajima no time inglês.
Em “circunstâncias normais”, o japonês não poderia terminar uma corrida melhor que o companheiro. Por força de contrato, só poderia ultrapassá-lo caso recebesse um “sinal claro” e era obrigado a ceder posição caso estivesse sua à frente.
Com a saída de Senna para a McLaren, anunciada em setembro do ano anterior, a equipe precisou correr atrás de um piloto de ponta. A melhor opção era Piquet, já às turras com a Williams.
Mas o já veterano valorizou. Fez valer o preço dos seus então dois títulos mundiais e seu tino para os negócios. A Lotus precisou colocar a mão no bolso.
Foi ganhando muito mais do que o compatriota.
(E sem Fla-Flu aqui. A situação é normal. Os dois viviam momentos bem diferentes. Senna tinha 27 anos, era então apontado como futuro campeão mundial, mas ainda com muito a provar. Aos 35, Piquet estava consagrado, rumava para o tricampeonato, já se aproximando do fim de carreira.)
O que temos, em primeiro lugar, é um memorando de entendimento entre Piquet, Lotus e R.J. Reynolds, a dona da marca Camel. São 6 páginas, que você pode ler na íntegra aqui.
O documento começa com o mesmo padrão do contrato de Senna, estabelecendo que a equipe terá direito a seus serviços como piloto, assim como a explorar “seu nome e sua fama”.
Logo na primeira cláusula, garante que ele terá status de piloto número 1 e traz uma curiosidade: Satoru Nakajima, o número 2, assinou um “código de conduta”.
Estabelece que Piquet estava liberado de fazer propagandas de cigarro “como indivíduo”, mas que sua imagem de membro da equipe poderia ser usada.Fato bem importante está na cláusula seguinte. A data. Este memorando foi assinado em 5 de agosto de 1987, e garantia a Piquet o fornecimento de motores Honda à equipe na temporada seguinte.
Isso é relevante por dois aspectos.
Se há a suspeita de que Senna descumpriu seu contrato com a Lotus ao negociar com a McLaren antes de 8 de agosto, o vice-versa não guarda dúvidas.
Existe agora a prova de que a Lotus transgrediu o que estava acordado: negociou com outro piloto, Piquet. Mais: assinou com ele.
O segundo ponto curioso: Piquet não guardou segredo. No mesmo dia, seu empresário, Eduardo Antônio da Silva Prado, que estava em São Paulo, anunciou o negócio. Piquet disputou 8 das 16 corridas daquele campeonato de 1987 já assinado com a Lotus. Mesmo assim, ganhou o título com a Williams.
A equipe garantia a permanência de Ducarouge como engenheiro-chefe em 1988 e manifestava a intenção de mantê-lo para o ano seguinte.
Piquet não tinha direitos a boné ou a espaços no macacão. Tudo tinha de ser dos patrocinadores da equipe. Ele podia fazer propagandas de outras marcas, mas tinha de submeter os contratos à Lotus, para evitar conflitos.
À grana, em valores da época.
Piquet ganhou em 1988 US$ 220 mil de luvas, mais salário de US$ 5 milhões naquele ano _US$ 3,5 mi pagos pela equipe e US$ 1,5 mi, pela R.J. Reynolds. Senna recebeu, no ano anterior, US$ 1,5 milhão.
Para 1989, o salário foi de US$ 5,5 milhões.
Ou seja, uma grande diferença, mas não tão enorme como Piquet sempre alardeou.
Como Senna, ele recebeu uma “ajuda de custos” de US$ 40 mil para viagens, bônus de US$ 4 mil por ponto conquistado e tinha a promessa de US$ 250 mil extras em caso de título mundial.
Mas não é só. Há um outro documento, assinado entre a Lotus e a empresa que representava Piquet, a Race Ace Management Corporation, com base nas Antilhas Holandesas, um paraíso fiscal. Está aqui.
Estabelece o seguro de vida para o brasileiro: £ 750 mil em caso de morte _sete vezes o valor acertado com Senna no ano anterior.
E garante mais uma vez que Piquet “é e será o piloto número 1 da equipe” durante a validade do contrato.
Lembram do tal “código de conduta”? Está na íntegra, no anexo 1 do documento.
É contrato, preto no branco.
O carro reserva tinha de ser sempre preparado para Piquet. A estratégia era sempre “positiva” para o primeiro piloto.
Segue um tradução livre do texto acima: “Em circunstâncias normais, presumindo que o carro número 1 esteja em boas condições mecânicas, é esperado que ele termine a corrida na frente do carro número 2. Para esse propósito, o carro de apoio deve aceitar que não poderá tentar nenhuma ultrapassagem a não ser que o número 1 faça um aceno, por conta de problema mecânico, ou que receba uma mensagem clara dos pits. Da mesma forma, quando o carro número 2 estiver à frente do número 1, ele vai aceitar ordens dos pits para ceder a posição”.
Isso tem 25 anos. Mas remete a situações atuais. Não dá para não lembrar e não entender melhor as situações vividas por Barrichello e Massa na Ferrari, por exemplo.
Nada como investigar o passado para entender o presente.
Mil agradecimentos aos internautas-perdigueiros que me ajudaram nesta pesquisa: Speroff, Bruno Gibin e Leandro Galleti.
Furo de reportagem espetacular! Agora entendemos Barrichello e Massa, que nunca tiveram coragem de revelar os termos de seus respectivos contratos.
Nao é esporte é negocio!
“Esporte” profissional é SEMPRE negócio.
Seria interessante ver o contrato do Nakajima.. Vou fuçar lá pra ver se encontro…
O que diferencia é que naquela época o piloto já era contratado como segundo piloto
e não como dois pilotos de ponta como agora….
É óbvio que um piloto que tenha sido campeão por 2 vezes, vá ganhar mais que o outro que não era. Redundante !
HAHAHAHAHAHA…. dá-lhe Piquet !!! Com medo de perder uns pontinhos para o Nakajima !!! hahahaha… Se fosse o Mansell, até entenderia, mas o Nakajima ???? hahhahahahaha
mas ele nem precisava se preocupar, porque nakajima sinceramente.
Eu pensava que essa coisa formal de primeiro e segundo piloto tinha começado entre Senna e Berger. Então foi antes? Ai, ai… Até !!!
Ah! E que nao se enganem, pois o Senna tambem tinha suas manhas, e nunca foi santo, rs.
Sobre o paraiso fiscal, lembro que o Piquet tem passaporte portugues, logo o lado tributario deve ter as caracteristicas europeias.
Corrigindo uma informação: quando ele o Piquet assinou o contrato com a Lotus, sim ele estava a 08 corridas do fim do campeonato, concordo com você, mas o texto dá interpretação duvidosa. Desculpa.
ISSO É FALTA DE ASSUNTO ?? PIQUET JA PAROU DE CORRER A MUITOS ANOS E SENNA JA FALECEU A MUUUUITOS ANOS. QUE ISSO VEM A SOMAR EM NOSSAS VIDAS? TEM OUTROS ASSUNTOS MAIS IMPORTANTES PARA SEREM DISUCTIDOS E PUBLICADOS NÃO ACHA??
Dentro do contexto deste blog, que é o automobilismo, você julga haver notícia mais importante do que esta publicada? Os documentos revelam que alguma práticas negadas veementemente pelas escuderias são, na verdade, oficiais há mais de 25 anos… Traçando um paralelo, pelo seu comentário você deve achar inúteis os trabalhos da Comissão da Verdade, não? E finalizando, se quer ler notícias mais “importantes”, abra as abas de economia e política na página principal do portal! Abs.
Para brasileiros que não dão a mínima para história, isso realmente não quer dizer nada e tampouco acrescenta nada a sua vida. Agora, para gente que gosta de automobilismo e, especialmente da história dele, acho fantástico poder ler os contratos dos pilotos referidos. São duas lendas.
Um adolescente criado a leite e pera na sacada do prédio pela avó como você deveria ter mais respeito pela história e poupar-nos de seus comentários.
Parabéns pelo trabalho Fábio Seixas! Mas todos sabíamos destes termos só nunca tínhamos visto estes documentos. E sabe que sempre tive a curiosidade de ver um destes? Queria muito ter visto do contrato de renovação do Ayrton com a McLaren… Abraço.
Tinha tudo para dar certo,piloto,motor,equipe…. mas o carro era uma porcaria.
Fabio Seixas: ou eu ou você estamos malucos: em 1988 o Piquet foi pra Lotus substituindo o Senna mas, ele Piquet, já era tri campeão e não estava correndo atrás de ser tri, em momento algum de 1987 o Piquet correu pela Lotus substituindo o Senna por descumprir acordos de contratos, na ultima corrida do ano o Piquet correu pela Willians. Acorda, leia a historia antes de comentar com seus erros. Tenho certeza do que falo e tenho dúvidas se o Sr. deixa publicar isto aqui.
O Piquet assinou com a Lotus em 1987 para correr a partir de 1988. Quando ele assinou com a Lotus, em agosto, ainda era bicampeão. Quando estrou pela Lotus, em 1988, já era tri. Está difícil entender?
Iran, você não leu o post do Fábio com atenção. Está claro no post o que ele te explicou na resposta
O triste não é o Felipe vai Passa ser segundo na Ferrari, o triste é ele estufar o peito e dizer que não é segundo piloto da Ferrari e a Globo vender a mentira na cara dura. ‘Alonso e Massa vai brigar para ver quem será o grande líder da Ferrari’ quando na verdade todos sabiam que o vai Passa, era segundo, inclusive ele e a Globo.
Não há novidade nessa história. O próprio PIQUET revelou essa história, mais ou menos na época. E nunca escondeu que ganhava “uma grana” dos caras.
O Pior de tudo, mesmo, é que o Camelo Amarelo não voava na pista, e o Nelson não tinha uma “barata” só pra buscar a pole, como o Senna, no ano anterior.
O Nelson também disse, e o Estadão publicou na época, que o carro não era bom, e precisaria trocar “uns 150 itens”…
O problema atual é que se perdeu a memória de tudo, e não há mais repórteres de F1, e do automobilismo, como nos anos 80/90.
Essa é uma das questões… Os caras, com o esse Tal de seixas, nem vão aos autódromos, e corridas de kart não fazem parte das pautas deles. Nem acompanham a GP2!
Jim Brow II , primeiro queria saber quem é o Jim Brow I, mas tirando isso nem tenho procuração pra defender o Seixas, mas recentemente ele testou um F1 então amigo menos um pouco procure se informar antes de falar.
Fábio,
A cláusula 19 desse acordo diz que as partes se comprometem a manter confidencialidade sobre os termos acordados durante e depois do final do contrato, salvo se houver autorização por escrito das partes. Um contrato, como sabemos, é um instrumento jurídico perfeito, realizado entre as partes que, no caso, são partes privadas. Não li o do Senna, mas deve ter a mesma cláusula. Existe uma autorização por escrito das partes para que esse contrato seja publicado? Se não há, você considera que tem o direito de quebrar uma cláusula contratual de um acordo do qual você não faz parte e que envolve apenas entes privados? A internet é um mundo sem lei e sem direitos? É claro que tenho curiosidade em ver um contrato assim, mas a curiosidade está acima da lei? Sei que o outro lado dessa moeda é a liberdade de imprensa, mas ela também justifica tal intromissão? Machado de Assis publicou uma crônica em 1 de setembro de 1878 na qual afirma: “o respeito da lei é a primeira expressão da liberdade”. Não quero polemizar ou muito menos te censurar, gostaria apenas de saber sua opinião sobre esses limites e sobre o direito à privacidade. Ah, é: cuidado com o que vai escrever, porque o Obama tá lendo…
Vagner, isso está na Biblioteca da Universidade da Califórnia. É ela que você deve questionar.
Abs
Fábio,
obrigado por sua atenção, mas eu gostaria mesmo de saber sua opinião sobre essa questão da privacidade X direito à informação. De minha parte – e como fã do Piquet – acho que ele tem o direito à privacidade, se ele fizer questão disso. Por outro lado, entendo que este documento tem valor histórico e ajuda, e muito, a esclarecer como as coisas funcionam não só na F1, mas em todas as atividades de altíssima competitividade. E aí fica o dilema: o que vale mais, a privacidade da pessoa (que é uma figura pública, mas está exercendo uma atividade profissional privada) ou o acesso a uma informação de evidente valor histórico? O que me parece sensato é que, como o Piquet está vivo, a manifestação dele deveria ser condição para se tornar público tal documento, visto que há uma cláusula clara de confidencialidade. E também seria sensato estabelecer uma regra para divulgar documentos assim depois que os envolvidos já morreram – estabelecer um prazo, por exemplo. Minha questão era sobre a tese, não sobre o fato. Um abraço.
Eu acho que, depois de 25 anos, não há problema nenhum em um documento assim se tornar público.
Abs
Há 25 anos atras os pilotos brasileiros eram os caçadores, hoje em dia são a caça…
BH 11/07/2013
Amigos e amigas,
O mundo de negócios tem muitos segredos, e quem está nele não é obrigado a dar detalhes do que ganha, o que se discute é se isto ou aquilo é ético!
Vai saber se o Anderson Silva, perdeu por isto ou aquilo. Tudo depende do DNA do cidadão, se é bom ou não. E todos nós pobres mortais, ficamos observando tudo e de vez em quando temos muitas surpresas.
Seixas !!!
Muito legal o seu trabalho de trazer-nos esses contratos.
Bárbaro !!!
Quanto aos valores mais que merecido afinal ele já era Bi-Campeão e se tornaria Tri quando assinou com a Lotus, agora por Clausula de que o “SUPER Nakajima” não poderia ultrapassa-lo é brincadeira né.
Merecido o salario do Piquet. Era mais piloto que o outro, mero garotinho da Globo.
Na falta de um ídolo atual, o Fabio não tem o que fazer e busca história no museu. Acorda cara!!!!!
Hahaha, cada um que aparece aqui…
Da receita de peixe pra ele Seixas.
Nao vi novidade nenhuma. Sempre houve jogo de equipe. O que nem precisaria, afinal o n2 era o japa que nem terminava as corridas. .. rs. Na letra fria, caro jornalista, trata-se de um rascunho, pois nao tem assinatura. Contrato tem de ser firmado e reconhecido. Em relacao aos nossos herois Rubens e Massa, todos sabemos que, como n 2, teriam que ceder passagem (se existe isso no contrato, conforme mencionam nas transmissoes). O que nunca entendi foi o chororo deles. A reportagem serviu para recordarmos os bons tempos da Formula. Hoje nem assisto mais.
Seixas, o Piquet já era tricampeão de 1987 quando foi pra Lotus. Sobre o salário e contrato, nada de mais em se tratando do melhor piloto brasileito de todos os tempos. Piquet era um piloto técnico, acertador de carros, e temperamental. Não levava desaforos pra casa! Essa notícia é ótima para aqueles que desprezam o Rubinho e o Massa. Toda vida houve primeiro e segundo piloto. Não esqueçam que o badalado Senna teve o Gerard Berger.
Repetindo: ele assinou em agosto e só foi tricampeão em novembro.
Abs
Esse pessoal tá devendo na sala de aula de português, interpretação de textos. Leem e não entendem…
Manchete fora do contexto da época, pois claro que Piquet sendo tri mundial , só poderia ganhar mais do que Airton que ainda não possuía nenhum título. Elementar, meu caro Watson.
Metade dos títulos de Senna, por sua vez, pertence ao seu companheiro de equipe, todo mundo sabe disso.
Flávio, me desculpe. Te respeito demais como jornalista, mas do jeito que saiu a manchete…é claro, é óbvio que, nas circunstâncias da época, um tricampeão mundial como Piquet ganharia muito mais do que o Airton que, apesar do monumental talento que já demonstrava, não havia ainda conseguido nenhum título. Esta manchete está , na minha modestíssima opinião, um tanto quanto equivocada, ou induz o leitor a um raciocínio um tanto equivocado, fora do contexto para quem não acompanha a Fórmula 1 há muitos anos.
Abraço
Flávio?
Acho normal Senna receber menos que Piquet em 1988. Piquet era um piloto consagrado com dois títulos mundiais, enquanto Senna era um piloto promissor, mas sem títulos…
Fabio, desculpe mas meu inglês não é lá essas coisas: o que diz a primeira cláusula ? Pelo que entendi é que não havia diferença na qualificação, com exceção de algo que não entendi…..
A equipe basicamente diz que em treinos ambos teriam liberdade, desde que um não bloqueasse o outro na pista.
Abs
Valeu Fabio!
Estou decepcionada; pensava que essa coisa de tudo, em termos contratuais, para o primeiro piloto e nada para o segundo fosse coisa de tempos do Shumacher para cá. Perdi a inocência…
Da mesma forma, Gehard Berger nunca sequer tentou ultrapassar Senna, a não ser quando este lhe deu a vitória em uma corrida.
Bem vinda a vida, Maria Paula.