Carta a uma jovem torcedora
30/06/13 23:50Julia,
Decidi te escrever esta carta porque embora tenhamos dado aquele abraço apertado ao final do jogo e você tenha dito que foi “o dia mais especial”, talvez você não lembre de todos os detalhes no futuro. Quis escrever ainda com as memórias frescas na cabeça. Acabei de te deixar com sua mãe, vim pra minha casa e liguei o computador.
Foi assim.
Hoje , 30 de junho de 2013, pela primeira vez você foi a um estádio de futebol. E logo o Maracanã. Durante a semana eu coloquei pilha, te disse que é o maior do mundo, o que já não é mais exatamente uma verdade. Mas no nosso coração será, e isso é o bastante.
Você estava linda, toda preparada para ir ao jogo. Sua mãe e sua avó pintaram uma bandeirinha do Brasil na sua bochecha direita, e você nem quis comer a manga de sobremesa com medo de borrar a obra de arte. Você tinha presilhas verdes e amarelas nos cabelos, e vestia aquela camiseta que comprei para você dia desses em Búzios. Fajutinha, mas ficou linda em você.
Saímos de casa bem cedo, logo depois do almoço. E você vibrou assim que saímos do prédio e cruzamos um casal também de verde e amarelo. Ali você começou a perceber que não éramos os únicos que iam ao jogo, que a coisa era maior do que você imaginava, percepção que transformou em gritinhos quando entramos no metrô em meio a um mar de camisetas amarelas como as nossas.
Chegamos ao estádio antes da abertura dos portões, precaução para evitar transtornos com as manifestações que pululam pelo Brasil nas últimas semanas. Fui te apresentar ao Bellini e eu te disse que caso a seleção ganhasse o jogo, o “novo Bellini” seria um cara chamado Thiago. Não, meu amor, não é o Thiago da sua classe.
Portões abertos, entramos, segurando aqueles ingressos que compramos há tanto tempo, quando você ainda tinha 4 anos. E você não deu a menor bola para todos aqueles estandes de patrocinadores no entorno do estádio. Eu até quis te levar para ver uma atração ou outra, mas você tinha outros planos. “Vamos entrar logo, papai!”
Você me puxou. Entramos. E aí, Julia, chorei pela enésima vez no dia.
Sim. Porque acordei às 2h30 para trabalhar hoje. E quando saí da rádio, após transmitir a F-1, caiu a ficha que minha próxima missão era te levar para seu primeiro jogo. Daí lembrei de quando meu pai, seu avô Pedro, me levou para o meu primeiro jogo. Foi um Santos x Ponte Preta, no Pacaembu. Ainda guardo o ingresso, mas não tenho ideia do placar. Só lembro da minha diversão quando meu pai me mostrou a “escada do mijo” e dos palavrões que aprendi naquelas arquibancadas. E os jogadores, a bola, a torcida… Aquelas cenas tão comuns na TV de repente ali, diante dos meus olhos, reais.
Aquele dia me moldou. Aquilo começou a me fazer ser quem eu sou hoje. Aquilo acendeu em mim uma chama de amor ao esporte que se tornou minha profissão, que me levou a vários cantos do mundo, que me deu e me dá enormes alegrias, que é meu passado, que vejo como futuro, que me faz pagar sua escola.
Tudo isso, toda essa importância do meu primeiro jogo, bateu em mim hoje pela manhã. E chorei feito uma criança, a ponto de ligar para seu avô e mal conseguir falar com ele. Certamente não consegui colocar em palavras o que eu estava sentindo. Não consegui agradecer à altura o que ele fez para mim naquele dia.
Tudo isso voltou quando passamos, você e eu, de mãos dadas, pelo túnel de acesso às cadeiras do Maracanã. Quando você viu o campo e se maravilhou. “Como é grande!” Saiba, meu amor, que seu pai estava de olhos marejados quando você entrou pela primeira vez num estádio de futebol.
E curtimos. Como curtimos.
Você perguntou tudo sobre tudo. O que fazem os bandeirinhas, por que havia helicópteros sobre o estádio, como chama o goleiro do Brasil, por que o campo estava sendo irrigado, quem eram aquelas crianças com os jogadores…
Você dançou quase todas as músicas que tocaram antes do jogo. Você ergueu com orgulho, incessantemente, o cartaz que pintou com sua mãe, uma linda bandeira do Brasil com um coração no centro. (E ficou bastante chateada por não conseguir entregá-lo ao Neymar, mas eu te prometi que vou tentar dar um jeito de chegar a ele…)
Você me perguntou o que é “pátria amada”, na hora do hino, e depois o que é “cacete”, o único palavrão que me permiti falar hoje no estádio, minha mais impoluta presença numa arquibancada em todos os tempos. Repassei para você o ensinamento do vô Pedro, de tantos anos atrás. “É palavrão, mas que você só pode falar em estádio.”
Tudo bem que não vimos o primeiro gol do Fred, já que você quis fazer xixi bem no começo do jogo. Houve outros dois, inclusive um do seu ídolo, o “Leymar”. E no terceiro você chorou. Achei que já fosse sono. “É felicidade, papai”, me explicou.
Haverá muitos outros gols na sua vida. E seu pai estará ao seu lado, para comemorar.
E não pude deixar de dar um sorriso quando, você no meu colo, os alto-falantes anunciaram o público da final de hoje: 73.531.
Este “1” era a mais especial torcedora que já vi.
Te amo.
Papai
Fábio,
Como aquele grito da torcida contra o juiz, vou plagia-lo. Éi, Fábio, vai tomar….
Mas, em vez de do sentido pejorativo do discurso anti-arbitral, dessa vez, foi a única forma que consegui expressar o que você me fez sentir nesse momento.
Da mesma forma como você, também tenho uma filha com nome Júlia, é me imaginei vivendo a sua emoção e estou em lágrimas.
Quem sabe na copa consigo vivenciar isso com ela.
Um forte abraço.
É… eu gosto muito, MUITO, de você, amigo. E tenho orgulho de poder definir você assim: ‘amigo’. Um beijo, Wan
O orgulho é todo meu, amiga!
beijos
Tudo já foi dito.
Resta dar vazão ao choro e à emoção.
Parabéns.
Já o admirava. Agora, mais ainda.
A maior glória da vida de um homem é ser BOM PAI.
PQP, Fábio! emocionante. Só quem é do ramo sabe do q vc tá falando. Lembrei do meu, hj, com quase 19 anos, e voltei ao tempo. Belo texto
Fábio, o seu texto deixou a minha vida ainda mais feliz e humana. Parabéns pelo amor verbalizado. Muita paz, saúde e felicidade!
Parabéns moleque. Emocionante. Só quem é pai sabe a emoção de levar um filho ao estádio. Com os mesmos 4 anos de sua filha, meu pai me levou pela primeira vez no Maracanã. Era ano de eleição e Mário Vianna, então candidato, estava beijando as crianças numa da “roletas” da bilheteria. Ganhei um bj dele, uma almofadinha do Flamengo do meu pai e nem me importei com o 0 a 0 ao final do jogo do meu time contra o Botafogo de Marinho Chagas.
Muito lindo, Fábio ! Impossível não chorar. A sua estória é um pouco a de todos nós. Lembrei do meu pai, que já morreu , e que gostava muito de futebol ! Parabéns e um beijo pra Julia.
mais que um texto perfeito…é esse amor perfeito. sou pai e avô. vc vai viver e verá o que é ser levado pra Interlagos e Morumbí pelo filho de 27 anos e continuar a saga do meu pai, levando agora o neto ao estádio, ao autódromo ou mesmo ao parque, repetindo o que já fizera ao meu filho. já te admirava como comentaristaa e conhecedor do esporte a motor…agora muito mais. Deus nos proteeja e nos abençõe a todos…abrs
Olá, Fábio, tudo bem? Sou o cara que reconheceu vc na fila de entrada no Maracanã. Muito emocionante o seu relato! Parabéns pra vc e para a sua filha.
Fabião,
Só quem eh pai tem a real dimensão do q vc escreveu e sentiu.
Chorei ao ler.
Parabéns pelo seu dom de expressar tão bem com palavras estes momentos.
PS: Tem males que vem para o bem…
O blog tá bem melhor depois dessa sua mudança de vida! Não sei se foi bom pra vc mas pra gente, rsrsrs.
Parabens pelo texto, toca fundo no coracao de qualquer pai…
Muito legal. Acho que o que fazemos com nossos filhos e sabemos que são curtições nossas e que gostaríamos que também serão dos nossos filhos é muito importante.Passar princípio de cidadania, de amor ao esporte e amor à Pátria é imprescindível.
Bora torcer para o Brasil.
Emocionante….
Muito bacana, lembrei do meu primeiro jogo no Mineirao, tambem com meu pai, tambem num jogo da selecao…
Tbm fiquei emocionado lendo seu relato. Parabéns Fabio! Certamente sua filha será uma pessoa privilegiada! Abs!
Sem palavras…
Oi Seixas! Fiquei emocionada com o seu texto. Lindo esse relato,que domingo que domingo de jogo maravilhoso. Garanto que a Julinha jamais esquecerá, da primeira vez que entrou em um Estádio,assim como você não esqueceu do dia que foi com seu pai e pode escrever essas palavras tão lindas. Parabéns, e continue sempre assim, sendo esse pai maravilhoso que tenho certeza que és. Um abraço bem apertado e um beijo.
Perfeito!
Fábio, detesto futebol, copas, seleção e etc., mas seu texto foi excelente, me emocionei junto contigo.
Parabéns !
Simplesmente LINDOOOOOO!!! 🙁 🙁 🙁
O Marcelo Antunes, deixe de ser babaca! Tenho certeza de que não é pai e nem gosta de futebol…deve ser, no mínimo, uma bichona!!!!
Mazá Fábio. Mas que bonitinho hein, hehehe. Bom, meus parabéns. Bonita a alegria e os bons momentos. São legais e bons.
Incrível. Descrição pura, emocionada e tão rica que vi cada cena.
Parabéns e que DEUS os abençoe ainda mais!
Já tinha me emocionado em seu texto pós conquista da Libertadores em 2011…
Me senti seu amigo naquele dia e tenho post guardado até hoje.
Sou pai de uma linda menina de 2 anos que quando vê o símbolo do Santos já diz: Tantos do papai…
E estou ansioso para chorar feito criança quando entrar no estádio com ela…
parabéns!
Lindo.
Fábio,
Já te disseram tanta coisa bonitas sobre tua crítica, que nem sei o que dizer.
Sou pai de duas filhas, separado delas, mas quero te agradecer.
Simplesmente chorei ao ler sua crônica. Isso foi muito belo. Parabéns e obrigado pela alegria de ser pai.
Lindo este texto!
Me fez lembrar a primeira vez que fui a um estádio, no Pinheirão (Curitiba), 31/06/1996.
Paraná 0X1 Corinthians (Souza) …. eu tinha 12 anos, depois que entramos no estádio, meu pai encontrou um “amigo”, ele estava andando na nossa direção, meu pai o chamou de “Riva”, e logo pensei: “A não ele vai ficar conversando com o cara, quero ver o Corinthians logo!”
Ai meu pai disse: “A minha filha é tua fã!”
Eu não fazia ideia de quem era, ele me cumprimentou gentilmente, falou que o Corinthians ia ganhar e saiu.
Ai eu perguntei: “Pai quem é este Riva” ……
Era simplesmente “O RIVELINO”!
Parabéns pelo lindo e (e)terno relato da primeiro visita, de uma torcedora especial, a um estadio de futebol!
Grande o teu gesto, que com certeza fará a diferença!
Abraço!