Pilotos sem cara
24/05/13 02:27O circuito não passa por ali. Mas há, no quai Jean-Charles Rey, no porto de Fontvieille, em Mônaco, uma loja de memorabilia de F-1.
Bem perto há um restaurante onde íamos, repórteres da minha época, jantar de vez em quando. Na caminhada até o estacionamento passávamos pela tal loja. E perdíamos (ou ganhávamos) bom tempo na vitrine desafiando, um ao outro, a apontar os donos dos capacetes expostos.
Coisa parecida acontecia no Albergo Sant’Eustorgio, ao lado do Parco di Monza, que serviu a pilotos por décadas, até que hotéis mais luxuosos fossem erguidos na região.
(Foi lá que Rindt passou a última noite, por exemplo.)
Há no lobby vários capacetes deixados por pilotos, ao longo dos anos. Fim de noite, último drinque, sempre rolava uma sessão de quiz.
Isso tudo faz anos. Mas em Mônaco, lembro, havia o do Johansson e do Lauda. Em Monza, o do Regazzoni. Desenhos e cores marcantes, inesquecíveis. Tradicionais.
Tradição que vem se perdendo. E que nunca esteve tão em baixa como neste final de semana no principado.
Dos 22 pilotos no grid, metade correrá com “designs especiais”. Hamilton pintou caricaturas sua, da namorada e do cachorro. Alonso fez uma auto-homenagem a suas 32 vitórias na categoria. Grosjean bolou uma cena de carteado. Vergne e Raikkonen prestam reverência a seus ídolos, Cevert e Hunt, respectivamente. E por aí vai…
Vettel não correu dois GPs seguidos neste Mundial com o mesmo capacete. Em alguns casos, mudou as cores do sábado para o domingo.
Há, algumas vezes, um fundo nobre nisso tudo. Pérez vai leiloar seu capacete após a corrida e doar o valor arrecadado para caridade. Há também o bom e velho livre arbítrio: cada um faz o que quer.
Mas não gosto.
A F-1 já é dos esportes mais herméticos. Tão fechado que o torcedor não vê o rosto do ídolo durante a competição.
A identificação _não só visual_ muitas vezes se faz pelo capacete. Que, se priva os pilotos de expressar alegrias e tristezas, por outro lado lhes confere auras de guerreiros.
Cada um tem suas preferências. Quando moleque, meu preferido era o do Berger. Sóbrio, sem firulas: preto, branco e a bandeira da Áustria. Depois, adotei o do Greg Moore, da Indy, que aos meus olhos lembrava os elmos de cavaleiros medievais.
Se eu tivesse começado a assistir F-1 nesta temporada, me sentiria perdido.
E aqueles guias de início de ano, jogamos fora? E a tradição, onde fica? Os pilotos vão ficar mesmo sem cara?
Mas talvez a garotada de hoje curta caricaturas de cachorros e eu seja só um colunista dando claros sinais de velhice.
(Coluna publicada nesta sexta-feira na Folha de S.Paulo)
Acho que a última hipótese é a real Fabio. O tempo passou e em função do marketing, principalmente, os capacetes se tornaram peças de espaço para patrocínios ou para o próprio piloto expor sua preferência e é o que está ocorrendo neste GP. O capacete do Airton, tão famoso em todo o mundo virou peça de museu e era a sua identidade, mas hoje isso acabou, infelizmente. Como os carros não trazem mais os grandes números no bico, como antigamente, realmente é difícil identificar quem está correndo ainda mais quando temos carros praticamente iguais como RBR e Toro Rosso e aí temos que confiar na narração que também nem sempre é correta pois os próprios narradores das corridas se confundem. Fazer o quê? Temos que tentar nos adaptar a essa modenidade!!!!!!
Exatamente. Lembro do início das câmeras on-board mostrarem o lado ou o topo do capacete e aquele design da gota do Piquet ser, por mim, reconhecido na hora.
Vc não ta velho, acho que as coisas que estão erradas mesmo.
Eu com meus 22 anos, sinto falta dessa identificação. Não por não saber diferenciar os pilotos, afinal, nós que acompanhamos sempre o esporte acabamos conseguindo sempre identificar cada um.
Sinto falta mesmo, da lealdade de cada um ao seu casco.
Ri muito do Alonso homenageando a si mesmo com o capacete comemorativo, puta piloto egocêntrico e nojento. 32 vitórias? Imagina o Schumacher homenageando as 91 que tem, teria que pintar o carro todo! rs
viúva azeda detected!
Belo post Fábio.
Novamente parabens pelo blog.
Leio todos os dias, gosto muito das suas análises.
Vai voltar a trasmitir no sportv ?
Um abraço,
Obrigado. Vou, mas não neste final de semana.
Abs
Fábio! Assino em baixo. Eu tenho 31 anos e desde que me entendo como gente acompanho F-1 e a identificação realmente ficava nos capacetes. Lembro-me dos álbuns de figurinha que tinham essa “seção”. É uma pena. Em tempo, gosto muito das sua participação no redação sportv. Parabéns! Abraços
Concordo com você Fábio. Além de estar chata, a F1 não deveria permitir a mudança constante de capacetes. É a identidade do piloto!!! Para quem vê F1 atualmente, a verdadeira F1 terminou em 1993… e quem não vivenciou àquela época, não sabe o que é uma corrida de verdade.
Mas por que 1993?
O capacete do Jo Siffert era dos mais simples e bonito, uma bandeira da Suissa.
A última frase resume todo o blá-blá-blá!
Ontem eu dei uma zapeada durante os treinos livres e ao ver o capacete do Alonso pensei justamente nisso, de como os pilotos de hoje não tem mais aquele identificação “eterna” pelo seu capacete.
Vá la que vc tinha pequenas alterações de design de tempos em tempos, mas o essencial era “imexivel”.
Hoje é uma papagaiada igual camisa de time de futebol. Não bastasse mudar o layout, muda-se também as cores.
E quanto à velhice, meu caro, fique feliz que a cada manhã vc sinta alguma dor. Sinal que ainda está vivo hehe
Concordo também. Tanto que apesar de correr pouquissimo de kart (e alugado) e não ter moto a uns dois anos comprei um capacete só para qnd correr me reconhecerem. (Além do q os d alugueis normalmente tem as viseiras todas riscadas)
Fábio,
se você é um colunista dando sinais de velhice eu sou um leitor com os mesmos sinais. Não concordo com estas mudanças afinal nunca vimos o Ayrton ou o Nelson pilotar, vimos sim capacetes escondendo uma pessoa e dizíamos “esse é fulano”! Se o carro quebrava e aparecia a cena na TV olhávamos para o capacete e não para o número para identificar quem é…. acho que estou ficando velho também. De qualquer forma no futebol muito se inventou e pouco se firmou em termos de uniformes novos e novas cores; tomara que na F-1 isso também aconteça
abraço
Se for sinal de velhice, também estou nesse barco, pois sou da época que você olhava um capacete e sabia que era o piloto, mas isso parece ter ficado perdido em algum lugar do passado. Acho que os valores e interesses de hoje são um pouco diferentes… Uma pena…
Eu sempre conferi piloto na pista pelo capacete.
Em Interlagos já faz 2 GPs que vem acontecendo esse tipo de problema também.
Grosjean e Raikkonen ano passado estavam muito parecidos e confundia sim.
A “revistinha” já não se usa a tempos, só pra forrar a arquibancada suja.
Acho um certo exagero nisso tudo, quase um desrespeito ao público.
Agora, se estivessem preocupados com isso, nunca iriam deixar Hamilton e Rosberg com capacetes “iguais” a 300km/h.
No geral, em tudo mesmo, não se preserva mais nada, tudo tem que ser atualizado, compartilhado, uma chatice.
Abs
Realmente perde a identidade do piloto, em compensação a beleza é incontestável.
Pois é… Naquela época não existia ps3, xbox… Tudo isso é marketing. A garotada adora!
Concordo contigo, não gosto dessa história da mudança de pintura dos capacetes…aliás nunca gostei mesmo, apesar de ser fã de Vettel…mas acho que os pilotos deveriam manter suas identidades nos capacetes.
“APLAUSOS” PS: O do Moore realmente era o mais fantástico!
Isso sem falar nos números dos carros que praticamente sumiram!
Fábio, acho que neste grid atual, poucos alteram a pintura dos cascos. Que me lembro, Webber, Massa, Rosberg, Sutil, Di Resta e a turma do “fundão” são os que pouco alteram suas pinturas. Concordo contigo, num esporte onde a “cara” do cara (com o perdão do trocadilho), é o capacete, parece que vivenciamos uma época onde a “identidade” é o que menos importa.
E nesta linha, sempre gostei do capacete do Mansell e do Emerson, dos tempos da Indy.
é justo dizer que o capacete é a unica forma de expressao que sobrou pros pilotos, mas também sinto falta de poder identificar os pilotos de longe pelo capacete
Bom dia Fabio
Vc tem razão, isso deixa o piloto sem identidade,não se trata de velhice mas em todos os seguimentos as pessoas andam meio perdidas exatamente por falta de identidade, com tempo acho que acharemos respostas para este fenomeno que tambem não sei explicar.
Abraços
Lembro de antigamente, assistir corridas, quando garoto, de Piquet e Mansel e, que os bicos dos carros eram pintados de cores diferentes (as vezes o numero, grande, pintado de outra cor) para que pudessemos diferencia-los na corrida… hoje, por exemplo, nao sendo pela discreta camera colorida, no topo do carro de hamilton ou rosberg, praticamente não conseguimos distinguir quem é um ou outro, já que os capacetes são muito parecidos. E os números perderam o sentido… 🙁
Caro Fabio, sei o que vc sente , sinto o mesmo ….opção “B”. O joelho já doi qdo muda o tempo !?
É Fabio, não quero te desapontar, mas a idade está chegando para você !! Eu sou à favor de cada um ter o seu capacete tradicional e usá-lo na temporada inteira. Mas no caso de Mônaco, como realmente é uma prova que possui um algo à mais em termos de emoção e charme, acho válido que os pilotos possam extravasar e pintar o capacete com a homenagem ou cor que lhe der na telha …. Abraços !!
Fabio,concordo,é a exência da F1 indo pelo ralo. E olha que nem os numeros dos carros conseguimos ver mais.
Quanto a velhise,não fique triste,dá uma reparada na cara do Flavio Gomes rsrsrsr
To contigo Fabio. Antes, eu conseguia distinguir os pilotos em acidentes (ou mesmo na pista) so de olhar o capacete, que era uma marca registrada do mesmo. Hj, sofremos dessa falta de identidade.
E se quer saber, isso vale tambem para os “capacetes permanentes”. Basta ver que, muitas vezes, precisam colocar cores diferentes em destaque no carro, justamente pq os capacetes dos companheiros sao parecidos. Ate nisso essa identidade se perdeu.
Podemos ser velhos nisso, mas temos nossa razao. Antes, nao precisavamos do scout na tela pra saber quem bateu. Isso hj é praticamente um exercicio de adivinhaçao…
Não está só nesta situação, mas temos que admitir que coisas mudam , ah o meu preferido é o do Pace.
Olá Fábio. Bom, em primeiro lugar eu gostaria de dizer que gosto demais destes posts sobre passagens, locais e “causos”. Voce divide conosco estas experiências e cria assim (naturalmente) uma proximidade muito legal e agradável (podemos comentar e curtir). Valeu mesmo. No caso dos capacetes dos pilotos da F1, eu também sempre gostei de ver a “identidade” do piloto estampada alí. Para mim através do capacete eu enxergava o piloto e até a sua personalidade (mais ou menos isto em meu ponto de vista). Já na MotoGP (que não perco), estranho…eu me acostumei e me identifiquei com o Valentino Rossi (não nego, alguns que ele usou foram hilários, como o que tinha umas orelhas de burro e que me fez rir demais) e com o troca troca dos pilotos. Talvez na MotoGP, a identificação se dê mais pelo fato do visual total do piloto (capacete e macacão), com as suas personalizações e eu não estranhe por isto.
Ops..finalizando aqui (me alonguei no assunto, mas acho que está tudo bem)
Valeu Fábio, abs.
Bom dia Fabio,
Sinto o mesmo.
Aquela coisa de você olhar o capacete e saber quem é o piloto tá acabando.
Nao sei mais se a F1 tá perdendo a graça ou se a nova graça é isso aí!
Talvez a culpa seja dos pilotos que estão cada vez mais robotizados e são agora assessorados por um monte de gente! Deve ser muito palpite.
Uma pena pra que assistiu a F1 antes do século XXI.
Abraco
Jair
Mandou bem Fábio. O do Berger era irado, mas eu curtia mesmo o do Mansell. Esta coluna até parece um detalhe bobo, mas é bem por aí. Acho que a idéia dos pilotos é de fazer como no futebol, onde os times mudam de camisa o tempo todo. A diferença é que no futebol dá pra vender camisa, ou seja, é algo lucrável para tds, já na F-1…