A lista das utopias
28/12/12 03:00Em sua edição de Natal, na última terça-feira, a “Folha Corrida” trouxe o resultado de uma consulta com os leitores. A pergunta, feita desde o início de dezembro, foi “o que você gostaria de ler no ano que vem?”
Uma brincadeira, num dia de noticiário tranquilo e num espaço que tem essa vocação mais leve e descontraída.
A página trouxe 18 “manchetes” fictícias, pendulando do acordo de paz entre israelenses e palestinos ao fim da seca no sertão nordestino. A principal delas, publicada no alto: “Em seis meses, mundo não terá mais analfabetos, afirma ONU”. Desejos reais de um mundo idílico.
E havia uma, apenas uma, de esporte: “Massa ultrapassa Vettel na última volta, bate recorde em Interlagos e é campeão da F-1” . A ilustração, de Pablo Mayer, trazia o piloto em seu macacão vermelho, chorando, derramando champanhe na cabeça, abraçado a um troféu.
É de parar para pensar.
De novo: a página foi uma brincadeira, não uma pesquisa com valor científico. Mas foi feita com base em sugestões de leitores. E há quem encare uma conquista na F-1 como a “notícia dos sonhos”.
Não, a ideia não é ir na linha do “há coisas mais importantes”. Sim, há. Mas uma vitória no esporte é sempre bacana, mexe com o orgulho nacional, vira festa na hora, faz o pessoal esquecer por um instante das durezas da vida. O que vale reflexão é a fixação por um título na F-1. E o fato de isso estar listado ao lado de algumas utopias.
É uma utopia? Cada vez mais, sim. E a ficha do público já caiu, mostra a lista da “Folha Corrida”.
Em 2012, o brasileiro conquistou 43% dos pontos de Vettel, o campeão. Ok, ensaiou uma melhora no final do campeonato, mas, convenhamos, mais útil para sua autoestima do que para seus propósitos no Mundial.
Mas o pior é a falta de perspectiva. Se não for com ele, não será com mais ninguém a longo prazo.
Há enormes chances, aliás, de o ferrarista ser o único piloto do país na F-1: Bruno e Razia não acertaram com nenhuma equipe até agora e o funil está cada vez mais estreito _restam vagas só na Force India e na Caterham.
O país não tem um piloto promissor na fila, não tem um campeonato razoável de monopostos, não tem meia dúzia de autódromos decentes, não tem uma confederação que se preocupe com a crise que já chegou. Depende, como em tantos outras modalidades, da geração espontânea de talentos. E só.
Se de repente pintar um gênio, legal. O cenário real e a história do esporte indicam que a seca vai ser longa. E que talvez não acabe antes daquela outra, sua vizinha na página das utopias.
Férias
Esta coluna volta em fevereiro. Feliz 2013.
(Coluna publicada nesta sexta-feira na Folha de S.Paulo)
Caro Fábio, acredito que o Massa pode ultrapassar o Vettel na última volta. Só não acredito que ele vá ultrapassar o Alonso em volta alguma…
O que está acontecendo no automobilismo no Brasil é uma total falta de visão das empresas que olham somente o futebol , como esporte para fixação e exposição de uma marca. A F.1 tem 20 provas durante o ano, e lamentavelmente não temos nenhum empresa que se interesse em patrocinar um piloto brasileiro que está buscando um lugar nas equipes de F.1 . A rede Globo que é a maior interessada, deveria ajudar e articular um patrocínio para que esse piloto brasileiro conseguir um patrocinador, ou a curto prazo os 10 pontos de audiência vão despencar e logo,logo não teremos mais a F.1 nos canais abertos.É esperar para ver!!! Quanto ao automobilismo nacional,tem que mudar desde a CBA até os presidentes das Federações Regionais que estão atrelados ao comando da CBA e são políticos que não tem o automobilismo como foco principal das suas atividades, e esse movimento tem que ser fomentado pela imprensa especializada e os organizadores das principais categorias nacionais. Veja o exemplo do basquete com a NBB, precisou um movimento iniciado pelo atleta Oscar para que houvesse uma mudança no quadro desse esporte no Brasil.
Discordo de boa parte dos comentários aqui. Eu acho que pilotos de entrada para renovação nós temos sim. Tem o Razia, o Nasr, o próprio Bruno o Di Grassi e por aí vai. O que não tem é espaço. As limitações atuais de orçamento e testes das equipes de F1 acabam por fechar as portas. Nenhuma equipe vai querer um piloto que não traga rios de $$$ e vai topar um piloto que não tenha experiência dado que os testes são limitados. Na minha opinião é isso que fecha as portas dos Brasileiros. Os outros fatores (esporte abandonado no Brasil inclusive…) só agravam o quadro, mas não sei se isso é a causa raiz de não termos nenhum novo brasileiro na F1.
Tudo depende de fatores, se estiver no lugar certo e na hora certa, até o Massa pode ser campeão, porém, o Massa não está em condiçoes, ele assumiu a condição de coadjuvante e assim vai ficar até o fim da próxima temporada.
Seria uma pena se o Bruno Senna e o Razia não acertarem com nenhuma equipe, ambos tem potencial e talento. O Nasr é uma aposta a loooongo prazo. Nelsinho Piquet tinha todas as condições p/ brilhar na F1, talento, conquistas, inteligencia, sobrenome e técnica…só que, qdo foi p/ a F1, foi p/ o lugar errado e deu no que deu.
Não é por faltar um piloto brasileiro que deixarei de assistir corridas e ler suas análises. Gosto do esporte e torço pelos pilotos. O problema é que faltar interesse da mídia pra cobrir o evento, que mesmo tendo um cara tupiniquim na melhor equipe, é uma negação. Bom ano novo!
“Se não for com ele, não será com mais ninguém a longo prazo.”. Pois é. E qual é o apoio que o Massa recebe? Somos milhões de pessoas que gostam do esporte e não conseguimos apoiar o único representante que consegue, de uma maneira ou de outra, correr pela equipe mais tradicional e rica da categoria. E muitos ainda o xingam e diminuem. Não entendo esta lógica, mas tudo bem! O jeito é esperar a “geração espontânea de talentos”… Feliz 2013 a todos!!!
Oportunidades existem…
1. Vejam o exemplo do Ségio Perez indo para McLaren… E rapidamente sendo substituindo na Sauber pelo Gutierrez… Até onde sei o automobilismo no México não é tão mais desenvolvido que no Brasil… Mas houve alguem com visão… Isso não pode ser feito pelo setor público que tem outras prioridades… Eike Batista, por que não se inspirar no mexicano Carlos Slim?
2. Quer um bom exemplo como pode dar certo? A Stock Car, que há uns 10 anos atrás era um lixo e hoje tem visibilidade na TV, lota autódromos… Por que não fazer o mesmo com os monopostos?]
E que venha 2013!!!